20/10/2012

Peixes na floresta - Monteiro Lobato

 

Era um camponês que tinha uma esposa muito faladeira. Um dia em

que ele achou um tesouro enterrado na floresta, trouxe-o para casa e disse à

mulher:

— Acabo de descobrir uma grande fortuna, mas temos de

escondê-la. Onde será?

A mulher achou melhor enterrarem o tesouro debaixo do assoalho da

isbá em que moravam. O camponês concordou. Mas assim que a mulher foi

ao poço buscar água, tirou o tesouro dali e escondeu-o em outro lugar.

A mulher veio com a água.

— Mulher mulher — disse o camponês — é preciso que ninguém

saiba que temos este tesouro aqui debaixo do assoa lho. Muito cuidado com

a língua, ouviu?

Mas como não tinha a menor confiança nela, armou um plano.

— Olhe, amanhã iremos à floresta apanhar peixes. Dizem que estão

aparecendo em quantidade.

— O quê? Peixes na floresta? Onde já se viu isso?

— Na floresta você verá. Madrugadinha o camponês levantou-se

e foi à vila. Comprou uma porção de peixes, uma porção de aletria e

uma lebre. Passou depois pela floresta, espalhando tudo aquilo em vários

pontos. A lebre ele fisgou num anzol de linha comprida e jogou n'água.

Chegando em casa, almoçou e convidou a mulher para irem à

floresta. Foram. Que beleza! Peixe por toda parte, um aqui, outro ali, outro

acolá. A mulher, com gritos de surpresa, ia acomodando a peixada na cesta.

Depois deu com a aletria pendurada de uma árvore.

— Olhe, marido! Aletria pendurada em árvore!...

— Não me espanto de coisa nenhuma — disse o homem. — Nestes

últimos dias tem chovido muita massa dessa, que fica assim pendurada das

árvores. Mas a gente da aldeia já apanhou quase tudo.

Nisto chegaram à lagoa, onde ele jogara a lebre.

— Espere um pouco, mulher. Esta manhã pus aqui uma linha de

anzol com isca para lebre d'água. Vou ver se apanhei alguma.

Puxando a linha apareceu no anzol uma lebre.

— Como é isso? — gritou a mulher. — Lebre d'água? Que coisa espantosa!

Nunca ouvi dizer de lebre que morasse em água!...

— Nem eu, mas o fato é que pesquei uma.

 

 

Voltaram para casa com aquela lindíssima colheita e a mulher

passou o dia a preparar os peixes e a lebre.

Uma semana depois em toda a redondeza só se falava no tesouro que

o camponês descobrira. As autoridades mandaram chamá-lo.

— É verdade que achou um tesouro na floresta?

O camponês riu-se.

— Tesouro, eu? Ah, quem me dera achar um!

— Mas sua própria mulher anda assoprando no ouvido de toda

gente que você achou um tesouro e o escondeu debaixo do assoalho da sua

isbá.

— Minha mulher anda a dizer isso? Coitada! É uma louquinha que não sabe o que diz.

— É verdade, sim! — gritou a mulher, furiosa. — Ele achou um

tesouro, que eu ajudei a enterrar debaixo do assoalho! Louca, eu! É boa...

— Quando foi isso? — perguntou o camponês.

— Na véspera daquele dia em que juntamos peixe na floresta.

— Peixe na floresta? — repetiu o homem, fazendo cara de não

entender.

— Sim. No dia em que choveu aletria e você pescou uma lebre

d'água.

As autoridades convenceram-se de que a mulher era mesmo louca, e

como na busca que deram nada encontrassem debaixo do assoalho da isbá,

o caso morreu. O camponês esfregou as mãos, de contente.

— Veja se eu fosse me fiar nela! Estava hoje desmoralizado e com o

meu rico tesouro perdido...

 

— Que complicação para chegar a esse resultado! — exclamou Narizinho.

— Esse camponês sabia a mulher que tinha.

— E que grande maroto! — disse Pedrinho. — Logrou a mulher, logrou as

autoridades — logrou todo mundo. Freguês mais escovado ainda não vi.

— E isbá, dona Benta, que é? — perguntou Emília.

— É o nome das casas da roça lá na Rússia, em geral de madeira. Casa de

roça, aqui nós chamamos rancho, casebre, casa de sapé, mocambo e outras coisas

assim. Lá é isbá.

— Gostei da história dos russos — disse Narizinho. — Está pitoresca.

Vamos ver outra de lá mesmo.

— Não. Para variar contarei uma de outra terra muito fria, a Islândia.

E dona Benta contou a história de...



Atividades sobre o conto: Copie as questões no caderno e responda


1. Qual o foco narrativo do conto?

2. Qual espaço que ocorrem os fatos?

3. Quem são as personagens? Faça uma descrição delas

4. Faça um breve enredo do conto ( O que você entendeu)

5. Retire do texto palavras que  marcam " ações " em ordem cronológica

6. Faça uma análise crítica baseando nesta pergunta: Atualmente existem pessoas como estas personagens no conto? Como elas são e agem?

 


 







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