22/01/2012

Bruxos em plena aldeia indígena - Prof. Jerônimo

Hortolândia, uma maravilhosa cidade da região metropolitana de Campinas, clima seco, ar puro e isento das muitas poluições que afetam cidades grandes, Amanda II um bairro tranqüilo que abriga quase cinqüenta mil habitantes. Três amigos de escola que tinham muitas coisas em comum:
Alberto, um jovem ávido pelo conhecimento, cursava o 1º ano do ensino médio, seus óculos (estilo intelectual) destacava dos demais alunos, passava maior parte do tempo na biblioteca pesquisando livros sobre lugares exóticos.
Bernardo, cursava o 3º ano do ensino médio, era assinante de uma das melhores revistas de circulação periódica a revista “reader digest” na escola vivia sonhado com passeio pelas regiões pitorescas do Brasil, afinal ele dizia sempre:
— Nós brasileiros devemos conhecer primeiro nosso país que é rico em lugares bonitos, prá que se preocupar em conhecer outros lugares se aqui temos tudo de bom e bonito? Na sala de aula adorava as aulas de geografia e se deleitava com as informações passadas pela professora Mary!
Nos intervalos, seu amigo preferido era o Alberto, e sempre trocava palavras amigas e discutiam seus sonhos em conhecer outros lugares.
Carla colega de classe do Bernardo possuía o dom de fazer novas amizades, dizia que quando terminasse o ensino médio, faria uma faculdade voltada para a área de astronomia, queria ser cientista! A noite sempre olhava para o céu estrelado de Hortolândia, admirava a constelação do cruzeiro do sul!
Tarde de uma sexta-feira, Bernardo abre sua caixinha de coleta dos correios, em meio a várias contas para pagar, encontrou uma, vinda de sua revista preferida, dentro, um aviso do diretor da revista informando que ele havia sido sorteado com três passagens de ida e volta, para uma viagem para Manaus!
Alegria tomou conta do seu ser, e espalhou as boas novas entre seus amigos, a euforia tomou conta deles, na cantina da escola combinaram que distribuiriam as passagens somente para seus amigos íntimos. Como se aproximavam as férias de dezembro, os jovens se prepararam para a viagem, fizeram suas malas e incluíram nelas: repelentes para mosquitos, varas e apetrechos para pesca, espingarda para caça, lanternas, roupas camufladas, carnes em conserva, bonés e muitas coisas que poderiam ser úteis, como a viagem de ida e volta poderia ser longa, encheram suas malas com vários livros e entre eles um almanaque do pensamento que registrava alguns fenômenos e algumas coisas úteis.
Dia tão esperado chegou! No aeroporto de Viracopos os três despediram de suas famílias no saguão do aeroporto, e o avião tomou as alturas com os jovens aventureiros. Suas mãos suavam, e tentavam se tranqüilizar falando de coisas banais. Carla puxou conversa com o Alberto:
— Sabe Alberto, eu li no almanaque que está previsto um eclipse total do sol, e você não imagina que só será visto na região norte!
—Duvido! — disse o incrédulo Alberto!
—Último eclipse que se tem notícias foi a vinte anos atrás e eu era apenas um menino.- disse o jovem aproximando suas mão da mão da moça,e sentindo seu perfume adocicado da boticário, seu coração batia forte sempre que se aproximava de Carla.
— Pois é, teremos um privilégio, que ninguém de Hortolândia terá! — Ver este fenômeno de um único lugar! — Minhas amigas ficarão com muita inveja.
Suas mãos se tocaram mais uma vez e aproveitaram para trocar um “selinho” deixando Bernardo de olhos arregalados.- Bernardo também tinha uma forte atração por Carla!
Numa manhã ensolarada de sábado, o avião taxia na pista do aeroporto de Manaus e os três amigos descem e se dirigem para um hotel da cidade. Antes de chegar ao hotel foram pegos de surpresas por uma forte chuva, porque o tempo da Amazonas é muito instável!
Chegam em um pequeno hotel da grande capital Manaus, pedem dois quartos um para a Carla e outro para os dois amigos. Tomam um delicioso banho e se reúnem na sala de descanso do hotel, enquanto uma forte chuva cai. Conversam até tarde quando todos bocejando vão para seus quartos descansarem.
Quase duas da manhã, enquanto Alberto já dormia um pesado sono, Bernardo sai devagarzinho e se dirige ao quarto de Carla, a porta não estava trancada, sobre o fino lençol Carla deixava aparecer suas belas pernas, sua pequena calcinha estava a mostra, Bernardo chegou, e deu um pequeno beijo nas rosadas faces dela, se remexeu e fingiu dormir, as mãos de Bernardo tocaram suavemente em suas pernas, e logo se abraçaram arduamente. Ambos sedentos de paixão se entregaram um ao outro até as cinco da manhã quando ele voltou para seu quarto. Alberto ainda dormia exausto em sua cama de solteiro.
Amanhece o dia e os três saem do hotel e vão conhecer a grande Manaus, um anúncio publicava um telefone de um guia para viagens à selva, prometia ser um exímio conhecedor do lugar. Ligam para ele e atende o Zé do Brejo como era chamado:
- Alô – disse Carla ao telefone.- Precisamos de seu serviço para um passeio em plena selva, queremos conhecer tudo que for belo e exótico que exista nesse lugar. Concordaram o preço e marcaram para o dia seguinte, o embarque no seu belo barco. Iriam por água porque por terra era bem difícil o transporte.
Malas, mochilas e apetrechos de turistas estavam prontos e embarcaram no barco do Zé do Brejo. O barco era de tamanho mediano com dois compartimentos em um dos lugares havia redes para os turistas descansarem enquanto o barco singrava as belas águas do rio Amazônia, águas profundas, turvas.
Em uma pequena curva do rio, os três amigos acham que é o melhor local para permanecerem algum tempo e armarem suas barracas. O barco pára enquanto os três descem e começam seu passeio, árvores são fotografadas, pássaros de diferentes espécies, dão um verdadeiro show com seus cantos, doce cheiro de flores, é como um alucinógeno às narinas dos jovens hortolandenses.
Armam as barracas e curtem os bons momentos enquanto o barqueiro fica na beira do rio à esperar o chamado para prosseguir e guia-los à selva mais densa. Carla e Bernardo não puderam nem se tocar, um pouco de medo os dominava nesse ambiente exótico e hostil as visitas indesejáveis, rugido de feras ecoavam na noite, cantos de pássaros noctívagos davam um ar tétrico. Barulhos de chocalho indicavam que havia algumas cobras venenosas nesse lugar. Atiçaram a fogueira e conseguiram passar suas primeiras noites.
Amanhece, e ao som dos pássaros matinais, chamam o guia e se embrenham pela selva adentro, o guia vai à frente com seu facão cortando os obstáculos que dificultam a passagem. Um grito de dor:- Ai... Sangue mancha a camisa do Zé do Brejo, sobre seu pescoço um forte jato de sangue corre violentamente enquanto ele cai.
Os três desesperados não sabem o que aconteceu e correm desnorteados pela mata adentro, Carla tropeça em um cipó e cai. Sobre ela um ser estranho agarra suas costas e sua boca é fechada por uma mão toda manchada de barro, Carla vê que Bernardo e Alberto estão vindo próximo dela, as mão dos jovens estão amarradas e atrás deles um grupo de índios da raça dos Amambiquaras.
Os Amambiquaras é uma raça de índios quase extinta na região norte do Brasil, os pesquisadores dizem que deveriam haver poucos índios dessa raça. Eram antropófagos, andavam praticamente nus, usavam um pequeno enduape que cobriam as regiões glúteas, suas extensas cabeleiras eram presas por penas de aves principalmente de faisão, era um povo ignoto para os pesquisadores, mas exerciam extrema violência para com os intrusos.
Nossos amigos foram levados até a taba na presença do cacique, seus gritos de guerra e seus falares eram totalmente incompreendidos por Carla, Bernardo e Alberto.
O cacique era um velho de feição austera, tinha um pouco de conhecimento das línguas dos brancos e disse numa mistura de sua língua e a nossa: - O que os brancos querem aqui?- Carla foi a primeira a falar tremendo de medo:
- Não queremos nada, apenas ir embora.
Sem ser atendida, todos foram amarrados com cipó embira em um tronco de árvore que estava defronte da taba. Começaram as danças, em sua volta via passar alguns índios a dançar ao som de uns batuques de tambores. Havia algumas meninas índias, com seus seios à mostra, pequenas tangas cobriam seus sexos, os índios quase nus gritavam uma cantiga estranha, causando terror aos olhos dos hortolandenses.
Mais ou menos duas horas durou a dança, quando apareceram algumas índias, tiraram totalmente as roupas de Carla, Bernardo e do Alberto, usaram urucum, pintaram seus corpos, com uma ferramenta rústica, cortaram os seus cabelos.
Alguns índios trouxeram folhas de coqueiros e alguns gravetos e cercaram os jovens! Terror estava estampado aos seus olhos, sabiam que seriam devorados vivos após serem totalmente queimados.
Nessa hora, Carla lembrou das aulas de literatura que tivera com seu professor Ferreira, principalmente o texto que havia lido sobre o índio tupi sendo prisioneiro das tribos dos Aimorés! Agora vivenciava essa história real sendo a própria personagem.
Carla não havia perdido o senso de data, teve uma lembrança de seu livro, lembrou que nesse dia haveria um eclipse solar, visto totalmente na região norte, acreditava que seria em torno de 12h45min, lembrando que havia a diferença de fuso horário.
Quando tudo parecia perdido, Carla ficou histérica e começou a gritar, causando horror aos jovens prisioneiros. Gritava, enrolava a língua e olhava para o sol, os índios não compreendiam nada. De repente uma pequena mancha no Sol apareceu, a mancha crescia mais e mais até que começou a escurecer em pleno meio dia. Índios gritavam, olhavam para o Sol, alguns caiam com as mãos ao sol, logo toda a aldeia estava em prantos.
O cacique supondo que os prisioneiros eram bruxos mandou que os soltassem e disse:
- Fujam daqui vocês são protegidos pelo deus Sol.
Carla, Bernardo e Alberto receberam suas roupas e suas sacolas. Vestiram-se e ganharam algumas oferendas e um prato de uma comida que não sabiam o que eram, devido a fome, comeram avidamente, comeram algumas frutas.
Ao saírem da aldeia, Alberto lembrou que tinha um litro de álcool, alguns índios os escoltaram guiando pela selva. Ao passarem por um pequeno riacho Alberto despejou o álcool no leito do riacho e riscou fósforo, houve uma combustão e a água pegou fogo. Os índios desesperados voltaram em fuga gritando para suas aldeias.
Rindo e chorando os três perguntam a Carla se ela sabia do eclipse:- Acho que fomos salvos pelas leituras e nossos conhecimentos adquiridos na escola. É verdade sua bruxa, disse rindo o Alberto. Acho que eu também sou um bruxo.
Andando, chorando de alegria, tropeçando nos cipós, conseguem chegar até o rio de onde avistam algumas aves voando em círculo, olhando com mais atenção descobrem o corpo do barqueiro em estado de decomposição, pois havia sido devorado pelas aves.
Avistam o barco e não foi difícil por em funcionamento, motores são ligados, e sobem o rio e após três horas de viagem chegam a um ancoradouro em Manaus. Dirigem-se ao hotel e caem exaustos no chão do quarto.
Amanhece o dia e verificam que suas passagens ainda eram validadas, na hora marcada vão até o aeroporto e tomam o avião rumo à Campinas.
Seus nomes ficarão para sempre na história, pois aprenderam que muitas vezes a astúcia é melhor do que a força.
Brasil um lugar belo, porém todo passeio deve ser antes de tudo bem planejado para não sofrer conseqüências desastrosas.

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